Crítica publicada no site JB Online

Por Minha Parte

 Crítica publicada no site JB Online – 4/6/2005

Poético e orgânico ‘Por minha parte’ envolve a platéia.

A cor ocre que permeia a mais nova obra da coreógrafa carioca Esther Weitzman, Por minha parte, que estreou quinta-feira no Espaço Sesc, parece ser a senha para que se adentre no universo coreográfico que ali se organiza. Uma das mais fortes características da assinatura de Esther sempre foi a relação quase orgânica com o solo, acentuando poeticamente o peso dos corpos de seus bailarinos. Nesta obra, esse solo todo ocre é desvelado na inspiração da coreógrafa, a região Norte do Brasil, traduzida no cenário, no figurino e sobretudo no próprio movimento.

Nesse sentido, chama atenção a ambiência construída no mezanino do Espaço Sesc, sobretudo o piso rústico, de madeira, que, além de registrar rastros de suor dos bailarinos, ainda os encarde ao longo do espetáculo. Como a disposição das arquibancadas é em círculo e muito próxima, as manchas que vão se formando ali parecem misturar organicamente o público à dança, aproximados também com a delicadeza dos cochichos e dos abraços dos bailarinos. Uma intimidade e uma cumplicidade se arranjam num mesmo terreno, entre quem dança e quem assiste. Também o figurino, assinado por Gerah Diaz, permite que o ocre e o solo se traduzam em tecidos, também rústicos, como o algodão, mas sempre exatos em sua elegância de cores e texturas.

Mas é no movimento e em sua qualidade que Por minha parte se distingue. Existem lá continuidades da pesquisa a qual Esther Weitzman vem se dedicando, como sua relação com o peso, com o corpo que se move, deixando que o som desse mover seja matéria bruta a ser tratada, com o par silêncio/música, com sua dramaticidade. Assim, a trilha musical, tocada ao vivo pelo grupo Craquelê, ao mesmo tempo que deixa mais evidente tais relações, ocupa um espaço por vezes amplo demais para aquele ambiente tão íntimo, sobretudo por sua eloqüência melódica. Parece ser mesmo no silêncio que Esther alcança momentos de exatidão, de justeza de seu pensamento coreográfico.

Neste espetáculo, a coreógrafa pela primeira vez não toma parte dançando, o que, com certeza, confere a seu trabalho um acabamento mais refinado, pela chance de ela estar de fora dele, esculpindo o espaço de modo tão delicado e ao mesmo tempo tão vigoroso. A partir disso, mesmo com maturidades tão diversas de seus cinco bailarinos, Esther vem conseguindo imprimir neles seu vocabulário de movimentos, fruto de anos de pesquisa. Claro, falta ainda amalgamá-lo naqueles corpos, naqueles movimentos, para que o todo dos bailarinos se torne orgânico como o todo do próprio espetáculo. Para tanto, nada melhor que o tempo: o corpo precisa aprender com calma o que é tecido ali em poeticidade. Por minha parte parece ser, então, apenas uma parte desse rico processo.

Roberto Pereira 


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