Crítica publicada no Jornal do Brasil

Territórios

Crítica publicada no Jornal do Brasil – 11/08/2006

Territórios abertos para a expressão masculina.

Oito bailarino. Oito homens. Oito territórios diferentes. É assim que a cena se constrói no novo trabalho da coreógrafa Esther Weitzman, Territórios, que cumpriu recente temporada no Teatro Nelson Rodrigues e no Espaço Cultural Sérgio Porto e agora está em cartaz no Centro Coreográfico. Uma dança estritamente masculina e ao mesmo tempo absolutamente contemporânea cria a oportunidade de se observar como o vigor do vocabulário de Esther encontra paradeiro seguro naqueles corpos.

Os bailarinos, especialmente convidados para esse trabalho, aceitaram o desafio de estarem juntos no palco, mas nunca construindo um corpo só, como o de baile, do balé, com o qual estamos acostumados. São corpos com histórias diversas, com musculaturas e qualidades cinéticas tão singulares que se ofertam como mapas de dança sempre plurais. Toda essa palheta de possibilidades físicas foi inteligentemente pensada pela coreógrafa, que administra maturidades (e, por isso, competências) diversas através do uso de uma idéia de tradição.

Isso pode ser visto logo no início, quando a brincadeira Escravis de Jó é trazida à cena. O sentido de responsabilidade para que o jogo dê certo, a partir de uma contribuição individual que aponta para o coletivo, já traça o rumo do espetáculo no caminho dessa tradição. As referências às danças de origem judaica, matéria-prima que vem sendo burilada por Esther desde Terras, seu espetáculo de 1999, ganham a dimensão do corpo masculino, fincando ainda mais o pé nesse sentido de tradição. Uma tradição de hoje, pulverizada, diversa, globalizada. Uma tradição contemporânea.

E disso resultam momentos muito especiais, como os que oferecem o privilégio de poder ver dançar um experiente Alexandre Franco, bailarino e coreógrafo que possui todo um pensamento de dança estruturado, ao lado do jovem, e excelente, Felipe Padilha. Dois lugares tão repletos de singularidades estão ali desvelados. Ou mesmo quando se pode ver a maturidade com que os bailarinos Marcellus Ferreira e Marcelo Lopes doam à cena sua parcela de história, de modo tão generoso.

Os territórios que se desvendam através da coreografia de Esther Weitzman estão ali ao mesmo tempo em estado bruto e em estado de prontidão. Os movimentos percussivos, os silêncios e as danças em conjunto, elementos que se tornaram sua marca, ganharam agora uma tradução vigorosa de corpos masculinos. E fomentam ainda mais a esperança de que esses territórios, sem perder sua tradição e sua história, um dia possam mesmo dividir um mesmo espaço. É disso que essa dança fala.

Roberto Pereira 


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