Crítica publicada no Jornal O Globo
Published on junho 12th, 2005 | by pinzon17
Por Minha Parte
Crítica publicada no Jornal O Globo – Segundo caderno – 12/06/2005
Visita musical a um certo Brasil, um ‘país imaginário.
“Por minha parte”, a mais recente criação da Esther Weitzman Companhia de Dança, que encerra temporada hoje no Mezzanino do Espaço Sesc, deve ser entendida como um passo importante num caminho inaugurado em “Terras”, peça da coreógrafa de 1999. Assim como no anterior, nesse novo trabalho é a força do coletivo que constrói o terreno para a dança.
A coreógrafa se aproxima de um certo Brasil, um “país imaginário”, como ela explica no programa. A música vigorosa do Craquelê e os bonitos figurinos de Gerah Dias ajudam a construir a brasilidade que na dança se materializa. A coreógrafa estruturou o Mezzanino do Espaço Sesc (local destinado à dança) incorporado aos palcos da cidade no início do ano como uma arena. O chão, cor de terra, remete aos terreiros onde as danças populares acontecem. De qualquer lugar da platéia, o espectador vê a dança e, obrigatoriamente, o público. Essa escolha, em se tratando desse trabalho, ajuda a criar fricções entre a dança cênica em que palco e platéia se distinguem e as danças populares onde essa distinção não se coloca. O modo como os cinco bailarinos entram em cena sublinha esse aspecto: eles surgem de trás das arquibancas, se alinham a elas e ao público, para só depois ocuparem o centro da cena.
“Por minha parte” visita figuras de outras criações Em “Por minha parte”, Esther visita figuras e células coreográficas de suas criações anteriores. Desse modo, ela inscreve a nova criação numa trajetória marcada por memórias e recorrências. O uso do chão como superfície que atrai e acolhe o corpo inteiro, as batidas ritmadas de pés e mãos no chão, sacudindo a poeira, e os gestos que acariciam a terra retornam renovados nessa peça. O silêncio entrecortado pela regularidade da percussão do corpo no chão está ali, só que dessa vez dialogando com a música ao vivo do grupo Craquelê. A música ajuda a criar um recorte dentro da cena. Em alguns momentos, ela deixa de acompanhar a coreografia e ganha o primeiro plano, fazendo surgir uma dança diferente, mais fluida e mais simples, evocando novamente as danças populares brasileiras.
O reaparecimento de elementos já trabalhados em suas criações anteriores não significa, de modo algum, congelamento. Esther costura essas diversas referências a novos elementos com mãos sábias. Essas questões de fundo se oferecem como um fértil território onde a dança de Esther Weitzman se desenvolve e se renova.”
Silvia Soter